A espuma dos dias

A espuma dos dias, dirigido por Michel Gondry, França, 2013. O filme é baseado da clássica obra literária francesa homônima escrita por Boris Vian que vivia em Paris num ambiente repleto de referências ao jazz e ao existencialismo dos anos 1950. Não por acaso que os artistas plásticos gostam tanto do diretor, pois ele mistura sem moderação abstração com realidade sem nenhum constrangimento e com qualidade, diga-se de passagem. Se alguém já viu o filme Delicatessen ( francês também ) e gostou, provavelmente gostará desse também, por mexer no nosso imaginário de uma forma tão genial e instigante, nos tirando do “luxo comum” de não pensarmos e sim somente comer o maior saco de pipoca junto com o maior copo de refrigerante que tiver sendo vendido e se empanturrar sem se preocupar com o conteúdo filme, como na maioria das vezes acontece com a maioria das pessoas. A fita brinca com competência e responsabilidade por fazer um filme de qualidade com uma relação encaixada do mundo imaginário para com o mundo real. No roteiro temos um jovem milionário que morava atipicamente em um belo trailer. Em certo baile o rapaz conhece uma garota e a paixão é instantânea e avassaladora. Antes da continuação da resenha é importante salientar o elenco da fita: Omar Sy, Romain Duris e Andrey Tautou, ou seja, nomes de ponta do cinema europeu e francês atual. Todavia continuando com a nossa resenha presenciamos o amadurecimento dessa paquera de baile e por conseqüência disso os dois juntam seus trapinhos e vão morar juntos no trailer do cara. Trailer ou casa essa cheia de requintes mágicos, tais como: ter um cozinheiro real e um outro anão, quase que imaginário, que ficava entregando os ingredientes ao “ cozinheiro –mor” quando este abria a geladeira e até avisava dentro do forno se tal comida já estava pronta ou ainda por procurar em uma mini-horta os melhores legumes e verduras para serem comidos nas refeições especiais entre o recente casal. Não foi a toa que escrevi no inicio da resenha que a fita agradaria em cheio aos artistas plásticos, pois o mais espetacular tanto em termos de estória “roteiral”, assim como e principalmente também por estupendos efeitos especiais de animação, ainda estava por vir no meio do final do filme. É que tal garota sofria de uma doença atípica: no lugar de um dos seus pulmões existia uma flor de Lótus, de modo que ela só conseguiria sobreviver se esta flor fosse “alimentada” por outras flores ao redor para que a sua não murchasse e ela conseqüentemente morresse. De tanto comprar flores, e eram muitas: acredite, a fortuna do jovem apaixonado ia esvaindo-se aos poucos, de modo que um dia acabara completamente e o cara que nunca tinha trabalhado na vida por ter nascido em berço de ouro agora por nome do amor tivera que arrumar um emprego, coisa essa que não consegue ou conseguiu por pouco tempo pelo fato de nunca ter trabalhado, porém trabalhar era necessário para continuar comprando flores e mais flores para que sua amada não passasse “dessa pra melhor” ou pior, vai saber... E o final do filme é mais ou menos isso, ou seja, compras e mais compras das intermináveis flores. O que dá pra saber é a coragem e o desprendimento que o diretor do filme tem em juntar todos esses universos reais e fictícios e colocá-los em uma mesma obra e por isso saímos do cinema completamente avulsos e desavisados no sentido de entendimento do que a fita queria propor. Ok, o filme queria que você dê-se vazão ao seu lado que insiste em tratar com indiferença, que é o nosso lado artístico que cada um carrega dentro consigo. Mas e aí: já sabemos que temos esse lado artístico, já sabemos que ele existe, mais e aí, o que fazemos com ele então? Acho que é justamente aí que o filme quis chegar, ou seja, a lugar nenhum: somente apenas a não deixarmos de esquecer nosso lado artístico que pelo corre-corre do dia-dia acaba o sendo, ou seja, mais uma vez: deixar de prontidão nossa sensibilidade para percebermos detalhes pequenos da vida, porém importantes e que fazem toda a diferença na maioria das vezes. Sintetizar essa fita é difícil, pois se trata mais de emoções individuais ou de pessoas “mais ( + ) ou menos ( - ) sensíveis a fatos ou pessoas. Resumiria em poucas palavras para fechamento dessa resenha como um filme sensorial e bem interessante para quem não tem medo de conhecer suas emoções e ser deixado guiado por elas.

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