A Obstinação de uma vida

Eduarda era uma menina atípica. Ela subia em pau de arvore, se metia nas brincadeiras dos meninos. Destruía todas as bonecas da irmã mais nova e adorava ver a sua maninha Marina, chorar até soluçar e não agüentar mais sem a presença da vossa mamãe Laura.
Um belo dia Duda foi ao campinho de futebol dar uma olhada no jogo dos garotos. Ela ficou assistindo durante um tempo, mais logo mais quis participar daquele entretenimento: “Oi, posso jogar?”, ela pergunta logo ao maior do time que perdeu e que está sendo remontado com os outros garotos que estavam do lado de fora próximo a ela.
O garoto Corpanzudo olha de baixo para cima dela, com um olhar cético diz: “Você agüenta jogar com garotos?”. Ela não responde nada e abaixa a cabeça. O garoto entende a mensagem dela, e diz: “se é o que você quer, mas não me venha com frescurice de mulher, aqui só joga menino e se você quiser jogar, vai ter que ser igual a menino. Ela diz risonha:” “tudo bem”.
O jogo começa, Duda pega a bola da defesa e vai driblando, driblando cada um dos meninos que estava em sua frente. Ninguém consegue parar a garota, até que vem o ultimo zagueiro do time, e o dá uma bela de uma tesoura, fazendo falta e tomando a bola. O jogo obviamente não tinha juiz, mas ela mesmo assim reclama: “Falta aqui, Pará aí pó!”. Outro garoto que estava ao lado dela, se debruçou no chão e comentou rindo: “Você disse que não agüentava haha?”. Quando o garoto abaixou-se pra dizer isso, deu uma quentura na cabeça de Duda que ela já saiu distribuindo pancadas no garoto. Foram tantos socos que o tal garoto nem tinha tempo a respirar, quando tentava se desviar dos socos, viam os pontapés. E um desses pontapés acertou em cheio o ponto fraco de qualquer menino: Os testículos! Aí se foi o garoto a arriar no chão e a soluçar como uma cabrinha sem ar. Um segundo depois vieram os amigos do menino agora quase sem testículo, pegar Duda. Mas não era tão fácil assim, Duda era rápida, e enquanto eles se aproximavam Duda já arquitetava em sua mente os golpes que tinham de dar nas suas aulas de dez anos de Karatê. E quando eles vieram, tinha cada pontapé e soco esperando para cada um, de modo de um por um foi caindo até que não restasse nenhum em pé. Duda saiu ilesa da batalha do campo de futebol, sem sequer risco ou ralho algum, a não ser na canela com a tesoura que tomou durante o dribla-dribla.
Depois do acontecido Duda, ficou muito conhecida no bairro e suas adjacências por sua coragem e seus golpes. Na semana seguinte a academia de karatê ficou super lotada pela fama da menina Duda.
Com o passar dos anos, a sua fama só se ampliou. Certa vez, ela já com uns dezesseis anos, invadiu uma festa de uma inimiga de escola que ela tinha inveja por ela ser mais rica do que ela. Era a festa de debutante da garota, estava tudo lindo. Os pais da garota gastaram uma fortuna para fazer aquela festa, com bolos e mais bolos com elevadores. Duda simplesmente chegou à festa que não tinha sido convidada e tocou o terror, quebrando tudo e tocando fogo nos vestidos e roupas dos convidados. E aos que ousassem se defender e reagir, Duda e sua gangue era cruel, só parava de bater nos sujeitos e sujeitas quando ficavam desacordados.
Além disso, estava começando a ser incluído no seu currículo criminal, roubos de radio em carros, pequenos furtos em loja de conveniência e algumas agressões junto com furtos de velhinhas que carregavam suas bolsas nas calçadas de bairros mais nobres, porém nem tão distantes do bairro que Duda morava.
Na sua festa de aniversário de dezoito anos, Duda comemorou a altura que pedia esta data. Reuniu a sua turma, que naquela época já estava em seus trinta e poucos fãs – discípulos e comunicou: Gente, essa coisa de ficar só roubando velinha, posto de gasolina e loja de conveniência é coisa do passado, já era isso, agora o esquema será maior, e os cagões que não tiverem coragem saiam agora e nunca mais pisem nesse bairro ou serão cadáveres. Nenhum garoto ou garota se levantou. Antes de chefe, Duda era a principal referencia da vida deles, uma heroína. Até mesmo porque essas pessoas que procuravam Duda eram adolescentes com sérios problemas familiares, problemas esses que os pais não conseguiam resolver. Então com sua personalidade ímpar, Duda virava a mãe e o pai que aquela pessoa sonhava em ter e não tinha. Ela era liberal, mandava neles, tudo o que eles gostariam que os pais fossem. Por isso eram todos muito fiéis a ela e beirava já ao fanatismo e aceitavam qualquer ordem da carismática Duda.

Com vinte e dois anos, Duda já era bem conhecida no mundo do crime, e com alianças nas redondezas, ela se tornou ainda mais temida e poderosa. Então com o poder que já o detinha, Duda começou com sua turma muito mais numerada agora, através das alianças, a roubar bancos. Eles chegavam gritando nos bancos e mandando todos se abaixarem e ficarem calados, enquanto os mais experientes iam aos cofres e caixas saquearem a grana. Esse “projeto” deu certo durante um bom tempo, uns dois anos mais ou menos. Isso foi o suficiente para Duda e sua gangue construírem um verdadeiro castelo em seu bairro e se armarem com todo tipo de arma contrabandeada que conseguiam, aliás de suma, não era nada difícil arranjar arma de contrabando, Duda já tinha suas fontes do exterior, e quando os barcos aportavam, o pessoal da Duda já estava lá, esperando as valiosas e poderosas mercadorias de guerra.
Com o arsenal de armas volumando cada vez mais, e o dinheiro chegando cada vez mais também com os assaltos a bancos da cidade de Santos, Duda enveredou-se em outros rumos no mundo do crime. Achou que com a quantidade de capital mobilizado e imobilizado que tinha em mãos podia galgar novos vôos, e galgou mesmo. Ela tinha uma obsessão, queria ser chamada de imperadora, do que quer que fosse, qualquer ramo, qualquer coisa, mas imperadora. Mas como pensou Duda, existia muito ladrão rico e influente principalmente também já com seus impérios consolidados. Naquele universo Duda estava apenas engatinhando.
Daí que surgiu uma idéia fantástica: Posso comprar Juízes para comandar o ramo da compra das partidas de futebol, pensou alto a criativa Duda, e deu certo mesmo.
Com o dinheiro das apostas nas partidas, a Duda realizou seu sonho, ser imperadora da falcatrua no futebol brasileiro. Ela ganhava muita grana nos jogos já com os times pré – estabelecidos ganhos. Juntou tanto dinheiro que começou a comprar times de grande renome. Duda se tornou a primeira presidente de grandes clubes do futebol brasileiro. Não só um grande clube, mas vários grandes clubes. Quando Duda fez sessenta anos, ela encheu o saco da vida e se debruçou em um galão de 2.000 litros de vinho francês em uma de suas degas, e bebeu até morrer com um leve sorriso dos lados da face.

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