O ciúme do fumo

Carlos tentava parar de fumar, mas não conseguia. Tentava as placas que se colocava na pele, terapia, conversar com os outros, mas nenhuma tentativa dava êxito. Até que se “descobriu” ou assumiu dependente do tabaco e resolveu ir a reuniões em grupo de fumantes. Lá as pessoas falavam do porquê de fumar tanto ou pouco, o que o fumo tinha a ver com ansiedade, frustração e até mesmo indícios de depressão. Carlos abordou seu depoimento com todos os sintomas já citados juntos e a falta que lhe fazia uma criança e uma mulher em sua vida. Dizia que sentia sozinho, e por isso, muitas vezes se sentia com mais vontade de fumar. Às vezes fumava quarenta cigarros por dia, a depender do dia. Ia a todas as reuniões e via progresso. Foi diminuindo aos poucos até que estagnou e completamente parou o incessante vício. Começou a correr pelas ruas de sua cidade, se sentia mais leve e disposto, até seu humor se alterou.
Correndo conheceu Marta, uma incrível triatleta, ao qual se apaixonou perdidamente desde a primeira vez que a viu, foi amor à primeira vista, segundo ele.
A conquista foi dura, Marta tinha namorado e não dava mole, mas com insistência Carlos a laçou. Marta acabou o namoro que tinha com um estagiário de academia de musculação que estava ainda estudando e começaram um romance ardente. No inicio tudo eram flores, os dois iam correr juntos cedinho, tomavam o café-da-manhã aos beijos e a noite sempre jantavam a luz de velas com juras de amor eterno com “prorrogações” nos quartos. Carlos estava de quatro, alias, fora a mulher mais bonita que se relacionara e além do mais há muito tempo estava só, então de uma só vez largar a solidão e ganhar uma mulher gostosa e bonita era muito bom. Mas Carlos ainda queria um filho ou filha para de vez se tornar um homem feliz. O mal era que Marta achava que ainda estava cedo para tal responsabilidade, que os dois deveriam se conhecer mais um pouco para depois então pensarem nisso. Carlos queria logo, pois naquele avião que era a mulher dele, poderia aterrissar outro malandro e a tomá-la. Marta, desde o seu primeiro namoro teve problemas com homens ciumentos, parecia que um imã invisível a atraia para essa espécie. O seu primeiro namorado até tinha brigado em uma festa com um rapaz que ficou a paquerando. Era incrível como isso a atraía. De certo modo, ela sentia atraída por esse tipo de homem, pois se sentia valorizada por ele. Ela teve um pai que não conheceu e no fundo ela gostava desse tipo de jogo, provavelmente pela falta do pai ou pela falta da presença masculina em casa quando era criança. Algumas vezes com alguns homens ela tava um jeito dessa ciumeira aparecer para se sentir sua alto-estima mais elevada. Era o tipo de mulher que quando passava todos olhavam, pois era muito bonita de corpo, afinal era uma triatleta profissional. Carlos se segurava tanto quanto podia, mas às vezes explodia. Numa dessas insinuações de ciúmes de Marta, Carlos veio a bater nela e no cara. Sim, Carlos bateu nela também, pois sabia um pouco do seu passado e tinha sacado que às vezes ela dava uma forçinha para a situação ficar pior ainda com os seus “oponentes”. Carlos ficou no xadrez por bater em mulher quarenta e cinco dias e saiu com pagamento de fiança feito por seu irmão mais novo, André. Depois do acontecido se separaram e Carlos voltou a fumar de novo. Fumava muito, às vezes quase os quarenta cigarros que fumava antes. Ficou fumando durante uns dez anos com um caso ali outro aqui, mais nunca quis juntar-se a mais ninguém, seu encanto pelo amor acabara junto com a relação com Marta. É bastante verdade que Carlos galgou-se profissionalmente, mas seu pulmão estava a cada dia mais poluído . Ele dava a desculpa que seu pulmão estava como a cidade dele, cheio de poluição, que no dia que São Paulo fosse sem poluição, o seu pulmão também o seria.
Esporadicamente passando de carro, Carlos via Marta trabalhando nas ruas, correndo, afinal esse era o seu trabalho, essa era a profissão que ela escolheu. Mas ele só a observava e ela fingia que ele nem estava a observando, como nos velhos tempos. Carlos sabia que Marta não tinha mudado, por isso ainda estava só. Nenhum homem a agüentava depois de seis meses e descobrir o segredo do ciúme que ela guardara. Por isso muitas vezes ela treinava sozinha e até paquerava no treino, visto que era mais conveniente se relacionar com atletas também, Carlos fora uma exceção, já que era comerciante. Mas uma exceção marcante. Com Carlos, Marta aprendeu a se interresar por outras coisas além de só esporte. Conheceu países, arte, cinema e obteu cultura de um modo geral, por isso era agradecida muito pelo que o fizera a ela. Por outro lado Carlos conheceu a importância que se pode ter ao cuidar do corpo, conheceu o significado da palavra qualidade de vida, humor e amor a si próprio. Na época fora uma troca boa para ambos, senão pelos ciúmes que não conseguiram controlar. Nem Carlos sendo bastante instruído e inteligente conseguia não se contrapor e esse problema do ciúme, e Marta por sua vez, não se predispove a procurar um psiquiatra para seu impulso obsessivo. Desde modo está estória acaba com o final triste mesmo, para todos terem a consciência de como o ciúme pode acabar com uma relação. Viva livre ou se viver com alguém, sinta-se livre !

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