Nunca diga nunca

Assistindo a televisão, Doris sempre se encantava e sonhava com os beijos que as atrizes tomavam dos galãs de telenovela mexicana. Doris era uma jovem que estava a caminho de uma grande universidade na capital do seu estado, ela tinha passado em uma das primeiras posições do seu curso que era Química Quântica, o primeiro do Brasil na especialização. Morava em uma cidade do interior com cerca de doze mil habitantes e os homens da cidadezinha de Jacareí não era o que ela esperava, não, nem de longe igual aos galãs mexicanos. Quando chegou à capital viu nas ruas os “galãs” nas ruas andando, ou quase isso. Mas para Doris já estava bom. Eles eram mais “saídos”, mexiam com Doris pelas ruas, chamando-a de gostosa. Doris ficava muito constrangida quando isso acontecia, mas lá no fundinho gostava. Mas isto era um largo passo para aquela moça que nem tinha beijado ao alto dos seus dezessete aninhos de vida interiorana. Ela, claro queria conhecer primeiro o beijo, aliás, sonhava e endeusava este momento. Queria que ele fosse único e inesquecível, que os seus lábios tocasse levemente os lábios do seu amado, sem língua nenhuma, um toque de lábios ingênuos e apaixonados. Foi então em busca desse sonho que a obstenia. Começou a sair as baladinhas e logo conheceu pretendentes. Sim, Doris era uma daquela loironas que paravam qualquer trânsito. Eles vinham com uns papinhos de que como era o nome, se estava desacompanhada e tal, de modo que Dóris não conseguiu achar nenhum provável e potencial amado para aquele beijo cinematográfico, que para ela era absolutamente normal. As baladas vinham e nada do cara aparecer. Então ela desistiu e foi-se colocar sua cabeça nos estudos da Química Quântica, um curso que meio que competia com o conhecido Física Quântica, abordando a Quântica de outro ângulo. Ela começou a estudar muito, passava em todas as disciplinas com boas notas e a se tornar expert no assunto que estava bombando o mundo: A Química Quântica!
Logo Doris arrumou um bom estagio em um laboratório renomado, e começou a seguir uma carreira internacional de sucesso posteriormente.
Abandonou o assunto Homem de vez até ficar famosa e rica. Quando chegou aos quarenta e cinco anos, percebeu que ainda não estava morto aquele lance de lábios se entrelaçarem como coisa de novela mexicana. Sim, Dóris quase chegando à menopausa começara a pensar nisto mais constantemente. Então certo dia, Dóris quis resolver seu problema da forma que podia. Como depositou todas as suas potencialidades para o sucesso de sua carreira, não tinha nenhuma habilidade em tratar com o sexo oposto, daí que surgiu a idéia de chamar um profissional do beijo, mas para infelicidade da famosa Química Quântica Dóris, essa profissão ou esses serviços ainda não estavam disponibilizados no mercado. A teoria em que ela se apoiava que o dinheiro comprasse tudo deu errado e a frustrou ceticamente. Neste caso, era preciso conhecer uma pessoa, se relacionar com ela e permitir que esta se relacione também em todos os aspectos, inclusive conversar antes. Dóris nunca tinha se lubrificado nesse sentido e nem sabia onde e quando começar sua caça. Sem amigas do ramo da caça, Dóris foi à luta sozinha para as baladas proibidas para menores de 35 anos. Claro, até que pela necessidade presa durante tanto tempo, Dóris foi muito menos seletiva comparando-se quando tinha os seus vinte anos e também não tinha rolado nada. Agora não precisava ser Galã de novela mexicana, e tão menos só beijos depois de doses de uísque importado. Dóris descobriu que tinha vagina aos seus quarenta e cinco anos e aí quis liberar tudo de uma vez só e a muitos ao mesmo tempo. O resultado dessa bebedeira e descobrimento de vagina originou-se em uma total orgia com três quarentões sarados surfistas da praia do Arpoador.
Depois desse acontecido ninguém segurou mais Doris. A quântica que ela pensava agora era a quantidade de homens que podia pegar. Largou o diploma de mestre e virou boêmia das baladas de meia idade da noite carioca. Já era rica, não precisava trabalhar mais, e além do mais, conseguiu descobrir a felicidade que tanto procurara durante a vida inteira. Agora Dóris dava e ria, ria a dava. Descobriu que muita disciplina fazia mal e viu que isso era refletido nela, através da educação que teve, e que não conseguiu se desatar dela, desde o momento que saiu da cidadezinha de Jacareí, onde sonhava com aqueles beijos cinematográficos produzidos em televisão.

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