João e Maria

João e Maria era um casal apaixonado. Adoravam ficar juntos, contar segredinhos.
Eram total cúmplices um do outro, não conseguiam ficar muito tempo longe um do outro. João era mais comedido, tímido, Maria mais expansiva, comunicativa. Sempre nas rodas de amigos Maria que era a porta-voz dos dois, João preferia assim também, aliás, era da cultura da cidade dos dois, Salvador, que a mulher fosse mais falativa e o homem mais calado, observador. João como todo bom homem, era admirador de uma boa silhueta trabalhada em academia de musculação ou de praia, mas com Maria, evitava olha-las e ela apenas desconfiava que ela olhava nas costas dela, afinal ela queria o quê? João era homem, e o ditado que fala que o que é bonito é para se olhar é super válido, principalmente em uma cidade como Salvador, onde o calor é infernal e as roupas tende-se a serem mais curtas, em especial as femininas.
Mais com Maria ele era impecável. Chamava-a de princesa soteropolitana, que era a inhá dele e que jamais a trairia. Maria por sua vez só dizia: “É bom mesmo”. Mas Maria era quem dava suas escapadinhas. Faceira como toda boa soteropolitana é, ela falava que ia estudar com as amigas e dava o famoso “ zig-now” em Joãozinho, pobre Jão, como ela o chamava quando inventava as desculpas.
Mas um dia Jão seguiu Maria até o suposto estudo e a viu entrando em um motel sozinha. Lá entrou e viu o seu carro estacionado em uma garagem . João entrou furiosamente no quarto para pegar o flagra e deus sabe o que fazer com Maria e o suposto amante. Mas para surpresa de João, Maria estava sozinha e se masturbando com filmes pornôs na cama do quarto do motel . Jão petrificou-se e disse:
“ que caralho é esse, alias qual caralho quer, você pirou ???” Maria super envergonhada do flagrante se limitou a não esclarecer nadinha e somente pedir desculpas. João, machão como era de sua fama, não aceitou as desculpas de Maria e nunca mais quis vê-la novamente, ao menos foi isto que disse no momento da raiva furiosa , nervosa..
Dias depois Maria tentou falar com João, mas ele nunca a atendia. Até que ela foi até a casa e entrou sem bater falando:” Jão, você não é cornão, e está na hora de conversarmos, tenho um distúrbio, e tem de saber disso, eu não o controlo!” João ainda estupefato com o acontecido ouvia os choros e as palavras de Maria, necessariamente nessa ordem. Maria dizia que sofria porque não conseguia chegar ao orgasmo com ele, só com os brinquedinhos e os filmes. João perguntava se ele era o problema e Maria respondia que não, o problema era ela mesma. João quis fazer uma tentativa na hora e Maria disse que aceitaria , mas que sabia do resultado. Então a profecia de Maria retificou-se. Acabando de transar João ofegante pergunta: “ Iai foi?”, Maria balança a cabeça negando quase chorando. Desde dia eles resolvem acabar, ele em especial, e fica em casa arrasado, enquanto ela volta chorando pra sua. Os dois eram o casal mais feliz de Salvador, mas a questão do sexo fuzilou essa relação quase perfeita.
O Grande problema agora era que eles estudavam juntos na mesma faculdade e tinham de se ver todos os dias. Se olharem diariamente não era uma tarefa fácil. João desviava o rosto quando passava por Maria, mas não tinha como tapar o seu nariz também, e sentia o cheiro de Maria, e Maria Idem. Esta situação conseguiu pendurar-se até quase o final do semestre, mas não agüentou aos últimos dias. Se cruzando entre os corredores , os dois, falaram ao mesmo tempo:” isso não é justo pra mim”. Lógico que os dois ainda eram apaixonados um pelo outro, viveram muitos bons momentos juntos , tinham respeito um pelo outro e se amavam muito para que aquela situação continuasse daquele jeito. Conversaram e naquele dia mesmo transaram. Mas mais uma vez Maria não chegou ao orgasmo. Ela não conseguia entender que só conseguia ter prazer por outros homens, não o que amava. E ela era muito simpática também, falava que não gozava pra ele saber na mesma hora. Então João, que amava muito Maria, a mandou dar aos maloqueiros e esquecer dele.
Realmente, era um assunto que nenhum dos dois tinham o controle, eram duas pessoas instruídas e inteligentes, mas não conseguiam entender o acontecido. João foi à luta , e como era um cara de namorar, logo arranjou outra e ficou na dele. Maria enlouqueceu, ficou deprimida e foi procurar ajuda de profissionais de saúde. Ficou se tratando anos no tratamento de Freud e não conseguia namorar com ninguém agora. Era uma adulta sem amigos, e sem alegria pra viver. Culta, mas sozinha, foi o que Maria se transformou. João virou gerente de uma rede de concessionária de carros , com uma barriga que lhe cobria o pinto e três filhos homens com uma esposa igualmente gorda e feia como ele.
João não tem mais chances de ser uma pessoa realmente livre, pois se acomodou coma situação de casado e ficou lá sem evoluir em todos os sentidos. Maria ainda continua infeliz, mas sempre renovada de esperança em que vai se abrir e encontrar o seu amado e ser comunicativa como era antes. A João só resta a não possibilidade de crescer humanamente, pessoalmente, pois depois de formado parou de estudar e só se interessava pelo “ Bahêa”, e já tinha se conformado com a realidade de um cara barrigudo, feio e sem cultura e a Maria só restava uma porta que nem ela ainda sabia como abrir e esta porta era tão quão, ou senão mais difícil que a porta que o João teria que abrir também.


Os dois tem chances de voltarem a rir, depende apenas deles se abrirem novamente a vida, que as vezes parece tão difícil de ser compreendida...

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