Grande Serapia

Serapião estava de saco cheio dos apelidos que seus colegas de trabalho o colocavam.
Era um tal de serra pra lá, Pião pra cá, que ele não agüentava mais. Serapia, para os íntimos, era concursado e não poderia se livrar dos colegas perturbados assim, pois concursado era status em um país de miseráveis como o Brasil. Então ele teria que agüentar mesmo durante toda a sua vida, pois tinha estudado muito pra passar no IBAMA do Piauí em segundo lugar.
Serapião começou a agir com inteligência e passou a ignorar as piadinhas com seu nome, de modo que logo, logo os colegas elegeram outra pessoa com nome estranho para ridicularizar: Astolfo, do departamento de pessoal do IBAMA. Serapião agora ficou de boa e livre pra azarar a mulherada do IBAMA, falando que seu nome era Ricardo, vulgo Cadão.
Era um tal de uma noite com uma mulher, outra noite com outra que dava gosto até dos colegas que perturbava ele antigamente verem aquilo, e com direito a meus parabéns e tudo. Aquilo era ótimo pro ego de Serapia, ele sentia esta necessidade. De as pessoas de virem o elogiarem. Era tanto ou até mais importante do que propriamente a relação com as mulheres. Para Serapião, a fama, desde criancinha o atraía. Quer dizer a fama positiva. Porque quando perturbava ele porquausa do nome dele, essa fama, o deboche, o destruía. Mas Serapia tava na moda, não importava se ele era bonito como dizia o ditado. Ele tinha atitude, e isso que fazia dele o que era e tinha algum dinheiro, claro.
Um certo dia Serapião conheceu uma garota recém-chegada na cidade e no IBAMA, a qual se apaixonou de cara e coração. E a sorte dele, era que ela foi trabalhar no departamento de pesquisas de desenhos rupestres em rochas, que era ao lado do seu, o departamento de desenhos rupestres em troncos de arvores.
Com o tempo o escorregadio Serapião foi-se aproximando da pressa, de modo que uma certa noite em final de expediente, Serapia deu o seu bote e a convidou para um happy-hour próximo do trabalho que estava a começar. Como a moça era nova na cidade e não conhecia ninguém ainda acabou aceitando o convite pra dar um rolé e sair da rotina. Chegando lá, se sentarem e o Serapia começou a investir na garota de todas as maneiras: perguntado sua idade, o que fazia e se tinha namorado. Ela só respondia timidamente: “Não, não, não.” Então, depois de algumas doses de uísque pião chamou a exuberante, mas já tonta Ana para um baile. Depois disso ela cai aos braços e se apaixona por ele, tem lindos, porquausa dela obviamente, pois ele era muito feio. E finalmente morrem juntos no mesmo dia com exatos 84 anos na mesma cidade onde se conheceram já aposentados pelo IBAMA e cheio de netinhos e bisnetinhos.

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