Black Lives Matter in Brazil
Nascer e se criar em Salvador, para muitos norte-americanos
uma Nova Orleans melhorada, tem-se algumas peculiaridades, alias como em todo
lugar, todavia por Salvador ser a cidade mais negra fora do continente africano,
experiências vividas aqui só poderiam ter sido nesta cidade por este aspecto
racial, que como é sabido está em pauta no mundo inteiro após a morte de um
norte-americano negro por um policial branco nos EUA. Não posso dizer que sei o
que George Floyd sentiu quando estava em seus últimos suspiros, dizendo ao
policial branco que não conseguia respirar com um joelho em sua garganta, de
fato só outro negro poderia se colocar no seu lugar pelo histórico de racismo
que temos desde os tempos tenebrosos da escravidão. O que posso mencionar são
fatos que sofri de racismo invertido em Salvador. Por ser branco de classe
média, a maioria dos meus amigos eram negros , e para me enturmar tentava de
todas as formas pegar as gírias, os remelexos quando dançavam, seus estilos de
músicas , gingas no futebol, paqueras no pelourinho e outras coisas que só se
encontra em Salvador. É compreensível que uma raça que só sofreu durante a vida
e seus antepassados também, queira um lugar ao sol e uma cidade pra chamar de
sua. Entretanto o que quero salientar aqui é o movimento Black Lives Matter:
onde vidas negras importam ou deveriam importar mais. Quem vive em Salvador vê
este movimento norte-americano mais latente do que outros lugares pela população
ser mais negra, mas encontra-se paralisada como em qualquer outro lugar do
Brasil ou até mais parada ainda, haja vista que no último domingo tivemos
protestos nas capitais por este tema, e por aqui menos de duzentas cabeças se
reuniram na Avenida Tancredo Neves, e pouco fez barulho. Quando adolescente participei
de um quadro que veio a cidade importado do Domingão do Faustão chamado pela
Ponte do rio que cai, onde era necessário atravessar uma ponte inclinada de
madeira com uma bola na mão e uma piscina encardida de lama embaixo. Obvio que
ninguém conseguiu, mas esta experiência guardo até hoje por ter conseguido me
sentir um negro naquele instante que era alvejado por bolas de basquete
lançadas por um canhão de alavanca. Assim deve se sentir um negro todos os dias
quando sai de casa e pisa o pé na rua: alvejado por olhares discriminatórios e
estraçalhado por não conseguir estudos decentes, e consequente um emprego bom
depois de formado, e isso os poucos que conseguem a proeza em formar-se em
alguma coisa, pois na maioria das vezes é a faculdade da vida que fazem. É
preciso acabar com este discurso de meritocracia que reina no Brasil, porque
não existe mérito onde não se tem oportunidades iguais. É fundamental enxergar a
realidade racial com uma lupa mais aguçada e com menos hipocrisia de um
discurso de que isso não existe: O Brasil é um dos países mais racistas do
mundo, e se não for o maior. Este é retrato do nosso país, e precisamos mudar
isso já, antes de nos virarmos um Estado Unidos piorado.
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