Pais e Filhos
Se vivo
fosse Kurti Cobain hoje completaria cinquenta anos. Embora não entendessem
tudo ou muito via todos meus colegas de segundo ano colegial usando calças que pareciam cagados . Claro que aderi e adepto a moda grunge fui sem ,de inicio, conhecer o ritmo, era mais do Trash metal mesmo e idolatrava bandas
como Sepultura e Ratos do Porão. Era tão fã do Sepultura que dei o nome de Max
Cavaleira ao meu primeiro cachorro que tinha como prerrogativa ser meu e eu ser
seu dono em todas as questões e quesitos possíveis e impossíveis de minha
imaginação adolescente. Kurti, assim como outros, foram-se na idade dos 27, e
eu que tenho já 39 ainda perduro e continuo na minha caminhada pra sei lá onde.
A saudade desse e de outros é um dilema que tenho que carregar, afinal a vida
continua e o show não pode parar, e isso ainda sem o risco de correr em ser
piegas. As pessoas têm de ser felizes, porque não podem simplesmente serem
tristes, porque isso é proibido? Quem é triste é mal compreendido classificando
como depressivo. Queria ter o direito em ser triste por não achar graça no que
a maioria acha, mas isso não é possível. Triste é ser problemático, mas será
que quem é problemático é o mundo e não quem é triste? Acho até que ser triste é
ser mais condizente e lúcido porque o mundo tá uma merda né não ou tô falando
alguma mentira? Pra quem tem um mínimo de massa cinzenta não pode ou não
consegue ser feliz neste mundo de hoje, mas como mencionei, ser triste é
proibido, é algo como anticonstitucional e politicamente incorreto; por mais
que as coisas estejam mau a positividade tem de reinar e você mostrar o que
acha e que sente não interessa a ninguém a não ser você. Graças ao bom pai
curso uma graduação bacana: Letras, o que me faz me comunicar através da
escrita, espécie esta que não tem limites nem bloqueios: é só sentar a bunda na
cadeira e meter o dedo com ou sem inspiração. Hoje o Kurt Cobain fez-me lembrar
meu pai. Ele se foi com 62 anos de idade, muito novo. Tinha 32 quando o perdi e
faltou muita coisa para vivermos juntos embora tenha vividos bons momentos no
tempo curto que estivemos juntos. Meu pai era um cara do caralho: não tinha
nada a ver com esses pais padrões. Não assistia o Fantástico comigo e nem me
aconselhou na primeira vez que tive que arrumar uma namorada, mas do jeito dele
o amei loucamente. Hoje sinto tanta falta desse carinha que me pôs no mundo que
não podem mensurar isso e nem dá pra escrever também esse sentimento. Tive um
rompimento abrupto com meu pai quando ela resolveu se separar e voltar para sua
cidade natal com outra mulher em São Paulo, capital. Aos dezesseis anos nossos
encontros eram em férias ou em campanhas políticas nas quais trabalhava e íamos,
eu e meus três irmãos, a todos os cantos do Brasil. Como todo bom descendente
de italiano meu papai via a família como algo de mais importante na sua vida,
embora não abrisse mão da sua liberdade de ficar sem ela, ou por amor a outra
ou por amor a si próprio e a sua liberdade. Papai foi um homem intenso e
trabalhador, mas também sabia viver e não abria mão disso, o que hoje
compreendo como certo da sua parte, afinal se não viver sua vida quem poderia
fazer isso? Quando se é criança com um tanto grau imaginativo esperamos que os
adultos sejam super-heróis, o que na verdade não são e isso cascudamente
aprendi ao longo de muitas cabeçadas que tive, sejam elas existenciais ou por
uma suposta relação de afeto não aferida ou retribuída. O que aprendo da vida é
que vale um questionamento se vale ou não colocar alguém no mundo, coisa que até hoje não fiz e não tive
oportunidade também, mas fato é que colocar alguém no mundo implica hoje questionamentos que talvez
em sua época não tivesse preocupação. Hoje o custo de vida é bem mais caro, sem
falar nas inúmeras leis que te colocam atrás das grades se não tiver um mínimo de
dinheiro para sustentar seu filho, e isso sem falar nos mimos de hoje em dia
como as modas carrerrímas e outras cositas mais. Mas no geral acho que pai faz
uma puta falta, então se ainda tem o seu valorize porque depois será tarde
demais para chorar pelo leite derramado.
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