DDA
Sempre fui
uma pessoa diferente das outras. Claro: todas as pessoas são diferentes, mas
não me refiro especificamente a isto. Sempre tive a sensação de não pertencer a
grupo algum, por mais que me esforçasse. Empurrei com a barriga esse fato até
hoje achando normal esse meu jeito diferente por ser meio desligado das coisas
e da vida e também por ter tanta gente assim como eu nunca diagonistiquei como
doença o que tenho. Mas na real o DDA: distúrbio de déficit de atenção complica
e muito a vida de quem o têm. Por exemplo, a pessoa que tem isso não saca quem
é afim de você e entrevista de emprego então é sempre um desastre, pois para
quebrar o nervosismo sempre ligo o agir de forma natural, e esse meu natural é
não ligar pra nada e a pessoa se gostar de meu jeito que me contrate, mas por
ser tão depreendido de tudo e todos nunca rola um trampo pelos empregadores me
acharem um descomprometido com a sua organização. De tantos nãos em entrevistas
de emprego fui aos poucos recorrendo às artes para não ficar tão ruim da
cabeça. Sempre tento achar, por defesa própria, que a culpa é de quem não
enxergou minha genuidade e virtuosidade (porque não...) e acabo me aproximando
de inúmeras artes. A pintura, apesar de não desenhar, foi a arte que consegui
me sentir mais bem; nela consigo colocar todas as outras artes e aliviar meu
peito cheio de culpa pelo DDA. A vida as vezes é cruel , sempre achei que era
um garoto normal: fiz primeira comunhão e era um dos que mais gostava da
disciplina, jogava bem futebol e surfava ao ponto de participar de campeonatos
e praticar o esporte diariamente durante anos, décadas até. Ficar no mar esperando a onda da
série era uma coisa que me fazia bem de modo que nunca imaginaria ser diferente
dos outros, afinal tem muita gente que não liga ou se faz não ligar sobre
coisas que estão acontecendo na sua cara, que para tirarem uma de ator encenam e
dizem que não viu o que aconteceu. Quem tem DDA não vê mesmo o que está embaixo
do seu nariz e muitas vezes as pessoas não acreditam dizendo: “olhe mais para
os lados cara!” Por mais que olhe não enxergo o que a pessoa quer que eu
enxergue. Já até me acostumei em ser taxado como tapado, mas as consequências desse
distúrbio é desoladora , tais como: solidão, não entender o comportamento
dos outros e o principal: a falta de uma companheira. Tenho pra mim que só conseguirei
achar alguém com esse mesmo distúrbio de ficar longe de tudo e todos mesmo se
esforçando para que isso não aconteça. Agora percebo a minha tara por cinema:
em uma sala escura as coisas parecem fazer sentido e me sinto um pouco normal.
Não que o cinema seja uma fuga, na verdade foi a melhor coisa que aconteceu em
minha vida até agora, o cinema é de fato mágico por te tele transportar para
outro universo durante duas horas ou mais. Agora com 39 anos e tudo que passei devido
ao DDA saquei que não posso lutar contra esse distúrbio; se nasci assim meio
desligado tenho que aceitar-me como Deus me fez e tocar a bola pra frente. Se
não posso ser um homem de negócios que ao menos consiga sustentar-me e ainda ter ao menos um
filho, sonho do qual ainda não abandonei: um Dioguinho com DDA ou não será
muito bem vindo e quem sabe que com ele esse DDA possa até acabar, vai saber... Fato é que devemos nos aceitar como somos; se der pra evoluir , e sempre dá, então que busquemos essa tal evolução, mas jamais podemos esquecer da nossa essência existencial, pois tudo passa menos ela. Podemos e devemos correr atras dessa evolução nesse plano astral sendo um vencedor naquilo que se propõe a ser. Particularmente quero ser um cara que comprendam e respeitem meu jeito de ser, mas isso também deve a mim que aconteça sendo um cara competitivo a antenado naquilo que me traga alguma contrapartida, porque não existe essa de você estar antenado a tudo que acontece, senão enlouquece. Focar naquilo que quer e saber o que quer é do caralho, e é um caminho a ser descoberto ao longo das experiências que vivemos, mas não se iluda: quem faz seu destino é a sua vontade de evoluir passando por suas próprias dificuldades ou limitações. Se a vida fosse fácil não teria graça alguma; a descoberta da evolução é que nos move a sair do lugar e mudar o que achávamos como correto, por isso sempre procura esbugalhar os olhos perante todas as situações que não entendo para lutar contra essa porra DDA, pois como diria o poeta: DDA de cú é rola! Ou seja, basta termos uma motivação bacana para que o DDA suma, mas enquanto não rola nada de interessante tenho que ser não otário e ser amigo do DDA por esperteza ou por respeito sobre a minha própria personalidade. Sei que nunca serei um cara da porra que estará ligado em tudo, mas acho que selecionar o que você quer se antenar faz toda a diferença, afinal particularmente não quero mudar o mundo e acho que ninguém tem esse poder, nem o fuckking Donald Trump têm. Enfim , a hora de todo mundo chega e tenho certeza que não sou um cavalo paraguaio, modesta à parte. A sorte alinhada a hora certa há de chegar com DDA ou sem ele.
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