A Passagem

A Passagem, de Marc Dourdin, Brasil, 2013. Esse filme conta uma história atípica. Para dar um clima de velório Maria das Graças, uma negra forte de corpo e alma, é contratada para chorar diante do caixão do falecido (a). Não pense que é fácil chorar por alguém que você jamais conheceu: coloque-se na posição da Maria. Existe toda uma performance na hora de forçar o choro e dar o clima necessário ao velório de uma pessoa que, por vezes, não é tão querida e ninguém quer chorar por ela. Como diz o ditado popular: quem não chora não mama; e no caso da Maria das Graças se ela não chorar não ganha seu cachê, e não pense que é fácil entrar num velório com todos aliviados que aquele ente se foi e a Maria tem de fazer o papel de que aquele ente era querido e todos sentiam falta dele, por mais que isso seja mentira os parentes se apegam as poucas lembranças do falecido e entram na onda da Maria e começam a chorar com ela também. Não pensem que se trata de um trabalho fácil, mas todos nós temos um talento, e no caso da Maria é provocar as lembranças mais antigas dos entes que estão no velório. A obra fílmica além de contar essa história nos remete a pensar na única coisa que é a mais misteriosa para nós: o outro lado, ou seja, a morte. Como estamos aqui agora daqui a dois minutos podemos estar do outro lado e isso que intriga no filme: a fragilidade humana de desaparecer ou sair dos palcos da vida sem o direito de dizer adeus. De fato é um filme para apreciar, mas também para se pensar em que estamos fazendo com nossas vidas, afinal ela é ou não é um sopro? Deste modo basta viver e abusar da vida no sentido literal com as experiências de uma vida que propõe e consegue evoluir para o outro plano ou encarnação que estar por vir. Ou seja: ser corajoso consigo próprio pra realizar todos os seus desejos ocultos e por vezes não socialmente aceitos, porque quem julga não é juiz algum, mas sim a própria pessoa e seus pensamentos angustiantes de que deveria fazer isso ou aquilo, mas que por medo do que vão pensar não o faz e carrega o peso do não fazer para a próxima encarnação. Se estamos nesse plano temos que aproveitar aquele espermatozoide que lutou e ganhou a batalha entre tantos outros, e que nos gerou. Em outras palavras, para ateus e não ateus: para ser feliz é necessário coragem e em certa medida ser anárquico (a) ao que é ou está estabelecido pelos homens, que por sinal não sabem de nada do que é ou não é justiça, apenas elaboram elucubrações daquilo que poderia ser sensato ou correto, entretanto na verdade que são apenas especulações ou modos de brincarem de ser Deus para julgarem as pessoas.  

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