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Mostrando postagens de junho, 2016

Big Jato

Big Jato , de Cláudio Assis, Brasil, 2016. Os mais céticos poderiam dizer que “poesia de cú é rola”, mas não é bem por aí e o filme mostra bem o porquê. A obra é uma adaptação do livro homônimo do jornalista Chico Sá. Posso até me adiantar e afirmar que o protagonismo desta obra não é um só, mas sim uma família. O ator paulistano talentoso Matheus Nachtergaele faz dois papeis antagônicos e profundos que dão o tom sarcástico que a trama necessita. Ele se vira no pai de família que é dono de alguns filhos ( três ), e tem um caminhão que limpa a fossa das casas da cidade de Peixe da Pedra que ainda não tinham um vaso sanitário, a sua vasta maioria no sertão nordestino. Caminhão esse que tem o nome do filme: o super big Jato que vem para limpar as literais cagadas dos moradores do simpático nome do município de Peixe das Pedra. E ainda o Matheus faz o papel do irmão desse cara limpador das fossas alheias: um radialista anárquico que encantava e encorajava as pessoas que queriam sair do lu

Desajustados ( Fúsi )

Desajustados ( Fúsi ) , de Dagur Kari, Islândia/Dinamarca, 2016. Se pensas que és o único lado ruim da laranja, adveja que existem outras tantas laranjas, das quais podem existir lados podres também, e juntando com o outro lado sem gosto, ou com gosto duvidoso, aí sim podes fazer uma laranjada, e quem quiser que a tome, aí já é problema de quem se propôs a experimentar o refresco. Através dessa metáfora podemos apresentar um pouco o nosso protagonista: um sujeito gordo que trabalhava como empacotador de bagagem em um aeroporto e sofria bullying dos seus colegas de trabalho quase que diariamente. O rapaz, quer dizer, nem tão rapaz assim, já que estava com quarenta anos e vivia na casa da mãe ainda; todavia este sujeito, certa vez, pega sua mãe de quatro com seu namorado na área de serviço e toma um certo susto com o que vê, mas o que ele esperava, já o bastava como virgem na estória, não? Com tais características esse cara ganha umas aulas grátis de dança country por parte do seu “sogr

Passos( Kroki )

Passos (Kroki), de Karolina Zaleszczuk, Polônia, 2015. Por vezes um empurrão na vida pode ser deveras exagerado e consequentemente desastroso. O que acontece nesta obra polonesa é mais ou menos isso, mas vamos aos fatos, pois com eles meus argumentos serão desnecessários, ou não. Crítico de cinema (deve) ser frio como Varsóvia, a capital da Polônia. Eu, particularmente não consigo. Para rolar o tesão em escrever tenho que ter uma brecha emocional naquilo que me proponho a escrever, e por isso me envolvo com todos os meus textos. Se quiser um texto “racional” , que procure outro lugar, pois aqui neste as coisas são dilatantes e viscerais, ou ao menos tentamos para que isso ocorra, já que intuição e vontade de escrever não aparecem todo dia. Pois bem, voltemos então a obra polaca e diagnosticamos de cara um conflito entre mãe e filha adolescente. Mãe esta ainda nova e caixa de um mercado. A filha vai encher a mãe no trabalho querendo comprar algumas besteiras por estar enojada de comida

IRRLA3UFER

IRRLA3UFER , dirigido e roteirizado por Moritz Draheim , Alemanha, 2015, sendo sua estreia na América Latina. Tinha um puta trauma quando meu pai falava que era da "turma do mau" . Garoto e católico com primeira comunhão e tudo, não entendia quando ele falava pra mim isso com o riso nas bochechas cobertas por sua barba. Já minha mãe dizia, todo dia, que era da "turma do bem". Aos oito anos de idade criei uma imagem de certo monstro por parte do meu pai por ele ser da turma do mau. Na adolescência meus pais se separaram e fiquei mais distante ainda dele, de modo que ele já morreu e não conseguimos nos aproximar da forma que poderíamos, ou não poderíamos mesmo, vai saber, fato é que hoje sinto uma puta falta dele e devo ser mais da turma do mau do que a do bem. Metáforas a parte esse filme fez indagar tais questões da minha formação como humano; bom e mau, o que na real todos somos: complexos por natureza. A minoria sabe disso, mas somos as duas coisas ; podemos fazer

A Última Terra ( La Ultima Tiera )

A Última Terra ( La Ultima Tiera ) , do excelente e sensível Pablo Lamar, Holanda/Paraguai, 2016. Este foi o único filme em que não escutei diálogo algum do inicio ao fim no V Olhar de Cinema em Curitiba, e talvez por isso, tenha sido um dos melhores e aplaudido de pé pelos transeuntes críticos de cinema de todas partes do Brasil e América Latina, e a população curitibana em uma sala lotada. O máximo que tem-se de comunicação verbal aparece logo nos primeiros minutos do longa metragem,e tampouco também não são vozes, mas sim grunhidos de dor e respirações ofuscadas pela falta de pouca vida que lhe ainda lhe restava por pouco espaço de tempo. Ou seja: de quem estava indo dessa pra melhor (ou pior, vai saber do principal mistério nosso: o outro lado). A personagem em fase de ir-se é a uma mulher idosa que vive cercada de um mato selvagem e silencioso em uma selva paraguaia com seu esposo, também homem de idade avançada, na casa dos seus setenta e vai lá quantos. Porém tal senhor é de uma

O Estranho Caso de Ezequiel

O Estranho Caso de Ezequiel , de Guto Parente, Brasil, 2016. Com zero grau de temperatura e cinquenta na cabeça serei tinhoso em resenhar esse filme, pois até agora não vi nenhum filho de kenga especializado a cometer tal ação. De inicio abre-se o filme com um versículo bíblico de Ezequiel. Na vida real, ou melhor, na trama o Ezequiel é um homem que passa por um momento difícil com a perda da sua esposa, alias bota dificil nisso. Ele vê vozes, fuma maconha, se recolhe em sua casa para compreender a ida de sua amada para o além. No máximo que Ezequiel faz é comprar frutas no mercado ao lado para acalmar sua mente, mas isso não adianta. Ezequiel, então, desiste de esquecer sua esposa e busca ela da sua maneira, onde ela estivesse. Se ela não pode estar ali, ele primeiro faz com que ela estivesse, ou acreditasse que estaria, e após, ele vai onde ela estaria; lugar esse que não fica nítido, mas ele vai lá e fica. Lógico que, alias se existe uma coisa no filme que não existe é a lógica, mas

Ator Martinez

Ator Martinez , de Nathan Silver, EUA, 2015.O diretor é figura carimbada no Olhar de Cinema. Desta vez ele vem pra desmistificar o limite entre a ficção e o documentário. A obra não deixa de ter sua marca registrada: a tragicomédia, ou seja, por situações tão absurdas que surgem, o humor acaba dando as graças para situações tão estapafúrdias. O protagonista é um sujeito que conserta computadores e resolve chamar dois cineastas para fazer um filme seu. Todavia quando os diretores pedem para que ele se comporte como um ator, como chorar, por exemplo, ele não consegue. Ano passado Nathan Silver teve uma amostra só de seus filmes no Olhar de Cinema, mas no deste ano só rolou esse, deu para matar as saudades do diretor criativo que ele é.

Um Outro Ano ( Another Year )

Um Outro Ano ( Another Year ) , dirigido e roteirizado por Shengze Zhu, China, 2016. Em sua estreia mundial em pleno rigoroso "inverno", no V Olhar de Cinema, em Curitiba. O documentário de três horas cravadas, nos mostra o quão importante é um "comer entre família". Refiro-me, óbvio, as refeições feitas com todos da família em mesa, que neste caso era de duas crianças, uma adolescente, marido e esposa. Especificamente a obra nos mostra treze encontros culinários da família chinesa, sendo que cada evento equivaleria a um mês ( janeiro, fevereiro,etc), somando-se então doze, e mais um mês, que propositalmente tem como titulo do filme como Um Outro Ano, ou o décimo terceiro jantar /mês. O que me fascinou na obra é sua simplicidade, como por exemplo a adolescente falar para o pai que ele cobra muito pouco em suas viagens para entregar materiais de construção; e este por sua vez reclama com sua primogênita que ela come muito, estuda pouco e já passou da hora de arrumar

João e Maria

João e Maria , de Eduardo Baggio, Brasil, 2016. O curta metragem faz parte da mirada paranaense do V olhar de cinema, festival internacional de Curitiba. João pede na rádio uma namorada pra ele, que tenha menos de sessenta quilos. No decorrer do filme que percebemos que João era violeiro, mas a música já não o completava como dantes então. Agora com sessenta anos caça desesperadamente uma mulher para passar o resto dos seus dias. A mulher aparece e João tem o que pediu na rádio, mas será que João ganhou mais ou perdeu? Esta pergunta regurgitou-se em minha mente pelos seguintes aspectos: já que João era músico, porque então abandonar sua paixão, só porque sua nova namorada não queria um "cara de farra"? João aceita a sua derrocada profissional em prol da sua felicidade matrimonial, mas eis que o Ás de copas surge na trama híbrida; Maria não só arranca o coração do seu carente amado, mas como também rouba a sua profissão, fazendo de João um acompanhante para ela , agora cantar.

O Último Retrato

O Último Retrato , de Arthur Touto, Brasil, 2016. Trata-se do primeiro filme de ficção do diretor. Rodado metade em São Paulo e outra em Curitiba, o filme é no mínimo instigante, e escrevo no mínimo porque muitas indagações o filme pode nos transmitir em temas existenciais profundos como morte e perda. Não sabia que quando alguém morre, outro alguém precisa solicitar sua conta do Facebook; não a toa existem tantos falecidos por lá, agora entendo. Fato é que agora Amanda precisa lidar com a ausência de Pedro, supostamente seu marido. Amanda alimenta o "face" de Pedro com fotos suas, transmitindo que aquele que está por lá ( no face ) ainda esteja vivo. Amanda se faz de Pedro publicamente para se sentir próxima de uma pessoa que já foi, e de certo modo, aos poucos, ou aos muitos, Amanda vai conseguindo ficar igual a Pedro, ou seja, invisível. Achei o curta profundo porque tive a sensação de morte, de uma auto-morte(conhecido também por suicídio) de Amanda. Enfim: perdas, incomp

O Homem Roubado

O Homem Roubado ,de Mathias Pinero, Argentina, 2016. Fui pelo nome e me dei mau. Festival de cinema é assim mesmo: uma roleta russa. Achei o longa muito confuso e o primeiro que me deparei em preto e branco, o que causou-me estranhamento, já que não tinha na sinopse tal opção estilística. Mas beleza, tentei assim mesmo adentrar na obra inusitada, mas não deu liga. O que vi foi um bando de larápios que iam aos museus e bibliotecas de Buenos Aires para surrupiar obras antigas a fim de revender para colecionadores, mas nem isso o filme mostra: a revenda. Desse modo sai da sala falando em alto tom: Mas que bosta, e muitos concordaram comigo. A obra fazia alusão a um determinado livro importante para os portenhos, mas a mutação para a sétima arte ficou devendo, e muito, a meu ver.

O Céu Treme e a Terra Tem Medo e Os Olhos Não São Irmãos

O Céu Treme e a Terra Tem Medo e Os Olhos Não São Irmãos , de Ben Rivers, Marrocos/Reino Unido, 2016. Até agora foi o filme com o título mais longo e o mais louco que assisti do festival de Curitiba. A fotografia é de um esplendor que já vale o ingresso somente por ela. A obra é rodada integralmente no deserto marroquino com a ida de uma equipe rodar um suposto filme de um diretor excêntrico.Acontece que após alguns dias de filmagem o diretor se aventura nas trilhas com um estranho da região e é golpeado na cabeça. Daí, sugere-se que aconteça outro filme dentro do filme que estaríamos vendo, ou seja, é uma bela deixa para especulações diversas. O diretor é raptado e feito de "homem-lata dançarino" dos nativos para uma possível revenda nos Marrocos.Vale pela fotografia e pelos pensamentos que surgem a posteriori; uma verdadeira viagem em todos os sentidos possíveis e impossíveis também, que só nos é ofertado quando adentramos em um festival internacional de cinema.

Para Além dos Seios

Para Além dos Seios , com direção e argumento de roteiro de Adriano Big, Brasil, 2016. Não entrarei na questão política que o filme aborda, analisarei como uma obra da sétima arte, mesmo sendo que questões do filme estejam atreladas a questões sociais, mas tentarei excluir esta visão para que não adentre no universo político caótico que o país se encontra atualmente. Posto isso venho informar que o filme, cem por cento soteropolitano, tem inúmeros protagonistas, e isto se deve ao fato de ter vários narradores com suas peculiaridade, mas todavia sempre estas narrativas linkadas aos seios femininos, ou quase sempre, excluindo-se um narrador cego que fala de como é ser sem visão no mundo onde todos aparentemente enxergam ( Em certa cena ele dispara e diz:"Enxergo mais que muita gente"). E de fato é esta a mensagem que o filme transmite. Ou seja: Basta ter bom senso para poder enxergar mais que os outros, e somente isso: Bom senso. O documentário do Adriano Soares ainda têm uma a

Alice Através do Espelho

Alice Através do Espelho , dirigido por James Bobin com Mia Wasikowska , EUA, 2016. A crítica especializada meteu o pau no filme , mas com o título de "especializado" em cinema, venho fazer o ofício de advogado do diabo e defendê-lo. Primeiramente: quem falou que o filme teria que ser a continuação do último Alice, até mesmo porque trata-se de outro diretor. Por ser uma continuação vão ficar querendo uma conexão com alguma espécie de continuação do filme, porém este é desprovido disso, e por consequência, independente na sua estória contada que inclusive começa em alto-mar com a embarcação Maravilha em um embate com cinco outras embarcações e mais: tempestades e rochedos enormes no caminho. Com uma habilidade surreal a capitã Alice ultrapassa os inimigos, a tempestade e principalmente as pedras com manobras que dariam inveja ao Kelly Slater. Chegando a Londres em pleno século XIX, ilesa, vai cobrar seus honorários aos que lhe devem pela viagem de três anos ao redor do mundo.